quarta-feira, 12 de maio de 2010

Michael Sullivan reedita sua "música do milhão"


Quase ninguém conhece a voz do pernambucano Ivanilton de Souza Lima, 60. Mas qualquer brasileiro acima de 25 anos sabe cantar, de cor, ao menos uma dezena das músicas criadas por ele, sempre sob o codinome Michael Sullivan.


Parcerias do compositor com Paulo Massadas criadas nos anos 80, canções como "Um Dia de Domingo", "Me Dê Motivo" e outras tantas alcançaram os primeiros lugares nas paradas.

E levaram às alturas as vendas dos respectivos intérpretes, vozes tão díspares quanto as de Tim Maia e Xuxa, Gal Costa, Alcione e Roberto Carlos.

"Só não vou dizer que éramos Lennon & McCartney porque seria heresia", diz Sullivan. "O mais adequado seria chamar a dupla de Black & Decker."

Era isso mesmo: música produzida em escala industrial. Sullivan conta que compôs algumas em menos de meia hora.

"Os artistas cantavam a música da moda sem medo de serem felizes", diz. "Todo mundo vendeu 1 milhão. É o clube do milhão, a música do milhão."

Fagner, que lançou "Deslizes" em 1988, diz que, de cara, achou a canção "inadequada" ao repertório que estava acostumado a cantar. "Eu era puro demais naquela época", diz.

Mas gravou a música, sem compromisso de incluí-la no disco. Quando voltou ao estúdio, no dia seguinte, se deparou com o argumento irrefutável: as faxineiras já sabiam cantar de cor. "Não me achei no direito de não seguir com aquilo. E ela, depois, abriu o leque do meu repertório para canções como 'Borbulhas de Amor'."

Se essa comunicação imediata com as classes mais populares já gerava críticas ferrenhas àquele repertório nos anos 80, o cerco se fechou ainda mais a partir da década seguinte.

Sandra de Sá e Fafá de Belém, intérpretes constantes de Sullivan (mesmo depois do término da parceria com Massadas, em 1994), sentiram o preconceito.

"Quando gravei 'Abandonada', me chamaram de tudo. Porque bateu na rádio e explodiu", diz Fafá. Sandra emenda: "E isso rola até hoje. As músicas dele que lancei só viraram bonitas pra galera depois que cantores 'chiques' regravaram".

Sullivan diz ter saudades de quando as rádios não eram segmentadas e podia-se ouvir, na sequência, uma música dele e uma de Chico Buarque.

"Essa segmentação só vai separar mais as pessoas", diz. "Vai ficar impossível fazer de novo uma história que abranja todas as classes da sociedade, uma música que a patroa ouça com a empregada."


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